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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

[II] "Ultra-violência"

A violência tem origem individual ou coletiva?



Aqui posso citar uma consequência da violência [indivíduo(s) para com a sociedade e sociedade para com o(s) indivíduo(s)]:


[...] Quando acordei, eu estava ouvindo e esluchando música que saía da parede, gronque mesmo, e era isso que  tinha me arrancado assim do meu sono. Era uma sinfonia que eu conhecia muito horrorshow, mas que não tinha esluchado há muitos anos, a Terceira Sinfonia do veque dinamarquês Otto Skadelig, uma peça muito gronque e muito violenta, especialmente o primeiro  movimento, que era o que estava tocando no momento. Eu esluchei durante dois segundos assim com interesse e alegria, mas ai o troço todo desabou em cima de mim, o início da dor e do enjôo, e eu comecei a ficar com as quíchecas roncando fundo. E então, lá estava eu, que tanto tinha amado a música, engatinhando pra fora da cama, fazendo ai ai ai pra mim mesmo e depois tuque tuque tuque na parede e critchando: "Pára, pára, pára, desliga isso!" Mas continuou e parecia assim estar mais alto. Então eu esmurrei a parede até os nós dos dedos virarem crove vermelho vermelho e pele rasgada, critchando, critchando, mas a música não parava. Depois eu achei que tinha que fugir dela, então sai com dificuldade do quarto malenque e itei escorre pra porta da frente do apartamento, mas tinha sido fechada por fora e eu não podia sair. E o tempo todo a música ficava cada vez mais gronque, como se fosse uma tortura deliberada, ó meus irmãos. Então eu enfiei os meus  dedinhos bem fundo nos meus ucos, mas os trombones  e os tímpanos penetravam estourando, muito gronque. Então eu critchei novamente pra eles pararem e martelei, martelei, martelei na parede, mas não fez nem um malenquezinho de diferença. "Ai, o que é que eu faço?", buuuuuuuaa eu sozinho. "Ai, Bog do Céu, me ajuda!" Eu estava assim perambulando pelo apartamento inteiro, com dores e náuseas, tentando tampar a música e assim gemendo do fundo das tripas, e aí, no alto da pilha de livros e papéis e aquela quel toda que estava em cima da mesa da sala de estar, eu videei o que é que eu tinha  a fazer e o que tinha querido fazer até que aqueles velhos da Biblio Pública e depois Billyboy e o Tapado disfarçados de rodzes me impedissem, e era acabar comigo mesmo,dar a pitada, sumir deste mundo perverso e cruel.  O que eu videei foi o eslovo MORTE assim na capa de um panfleto, mesmo sendo apenas MORTE AO GOVERNO. E, como se fosse o Destino, tinha assim outro livrinho malenque que tinha uma janela aberta na capa e dizia: "Abra a janela para o ar fresco, para as idéias novas, uma nova maneira de viver." E aí  eu entendi que estava me sendo dito pra acabar com tudo pulando pra fora. Um momento de dor, talvez, depois o sono, pra todo o sempre. [...]  
(Anthony Burgess in "A Clockwork Orange")

Como dizem os psicólogos, "todos sentem raiva" (de maneira implosiva e/ou explosiva) e infelizmente, não sabemos como controlá-la e a violência, muitas vezes, torna-se inevitável e incontrolável (devaneios negativos, que afetam o próprio individuo e atingem a sociedade). 


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